O “retorno” dos imóveis residenciais: por que eles voltaram a brilhar mesmo com juros altos?

Sabe aquele amigo que sempre ficou ali na dele, de chinelo no canto da sala, e um dia aparece de terno, confiante e cheio de novidades? Pois é, os imóveis residenciais estão vivendo esse momento. Depois de quase uma década com valorização tímida — muitas vezes abaixo da inflação — o mercado voltou a aquecer. E o mais curioso: tudo isso em pleno cenário de juros altos.

Pelo quarto ano seguido, os imóveis residenciais estão ganhando da inflação. Segundo o índice FipeZAP, a valorização acumulada nos últimos 12 meses (até junho de 2025) foi de 7,49%, contra um IPCA de 5,37% no mesmo período. Um desempenho surpreendente, considerando que o financiamento está entre os mais caros das últimas duas décadas.

Mas o que está por trás desse movimento?

Pra entender, é bom olhar o que veio antes. Entre 2009 e 2013, o Brasil viveu um verdadeiro boom imobiliário. Com crédito farto, economia aquecida e programas habitacionais em alta, os preços dispararam — em alguns anos, subiram mais de 25%. Mas de 2014 até 2021, o cenário mudou: estagnação, valorização abaixo da inflação e até quedas nominais.

Agora, o ciclo virou — e de forma diferente. Mesmo com crédito tradicional mais caro, os consórcios imobiliários têm ganhado espaço. De janeiro a maio de 2025, o volume de crédito via consórcio cresceu impressionantes 55,8% em comparação ao mesmo período de 2024. Uma alternativa mais econômica, embora exija mais disciplina e planejamento.

Além disso, o mercado enfrenta uma escassez de lançamentos em áreas valorizadas, um déficit habitacional persistente e uma nova percepção do imóvel como ativo seguro em tempos instáveis. Com inflação elevada, incertezas fiscais e oscilações cambiais, muita gente voltou a ver o “tijolo” como reserva de valor.

E se os juros caírem?

Essa é a pergunta que está movimentando os bastidores. Muitos analistas acreditam que a taxa de juros pode começar a cair em 2026. Se isso acontecer, o crédito volta a ser mais acessível e a demanda pode aumentar ainda mais — o que, naturalmente, tende a pressionar os preços para cima.

Ou seja: se o mercado já está aquecido mesmo com juros altos, o que esperar quando o dinheiro voltar a ficar mais barato?

O momento atual pode ser só o começo de um novo ciclo de valorização. E quem estiver esperando o “cenário perfeito” talvez acabe chegando tarde.

Mas atenção: nem todo imóvel está se valorizando igual.

A valorização está mais concentrada em imóveis de médio e alto padrão, bem localizados e em grandes centros urbanos. É um movimento mais qualitativo do que quantitativo. O recado do mercado, porém, é claro: o ciclo virou.

Agora, a grande pergunta é: seu planejamento financeiro já considera esse novo cenário?

AnoFipeZAP (Brasil)IPCA (IBGE)Diferença
2009+21,13%+4,31%+16,82 p.p.
2010+26,86%+5,91%+20,95 p.p.
2011+26,32%+6,50%+19,82 p.p.
2012+13,03%+5,84%+7,19 p.p.
2013+13,74%+5,91%+7,83 p.p.
2014+6,70%+6,41%+0,29 p.p.
2015+1,32%+10,67%–9,35 p.p.
2016+0,57%+6,29%–5,72 p.p.
2017–0,53%+2,95%–3,48 p.p.
2018–0,21%+3,75%–3,96 p.p.
2019+0,00%+4,31%–4,31 p.p.
2020+3,67%+4,52%–0,85 p.p.
2021+5,29%+10,06%–4,77 p.p.
2022+6,16%+5,79%+0,37 p.p.
2023+5,13%+4,62%+0,51 p.p.
2024+7,73%+4,83%+2,90 p.p.
2025 (junho)+7,49% (12m)+5,37% (12m)+2,12 p.p.

Fonte: Folha – “Surpreendentemente, os preços de imóveis residenciais estão subindo mesmo com juros altos”

Casa Guedes – O blog da imobiliária do Parque São Domingos

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