Por mais de meio século, o bairro de Crescent Park, em Palo Alto (Califórnia), foi sinônimo de vida tranquila: casas de madeira em estilo Craftsman, ruas arborizadas e festas de quarteirão que reuniam famílias e amigos. Mas desde 2011, a chegada de um novo morador mudou completamente o ambiente: Mark Zuckerberg, fundador do Facebook e CEO da Meta, hoje dono de uma fortuna avaliada em mais de US$ 270 bilhões.
Da primeira compra ao “mini império” imobiliário:
A história começou em 2011, quando Zuckerberg comprou sua primeira casa na Edgewood Drive.
De lá para cá:
- Foram 11 propriedades adquiridas, muitas vezes com valores até o dobro do preço de mercado;
- O investimento total ultrapassa US$ 110 milhões;
- Cinco dessas casas foram unificadas em um complexo particular, com residência principal, casas de hóspedes, piscina coberta, quadra de pickleball, jardins e um porão subterrâneo de 650 m².
Boa parte dos imóveis segue vazia — algo incomum em uma das áreas mais disputadas do Vale do Silício.
Obras sem fim e rotina de vizinhos virada de ponta-cabeça:
A construção do complexo durou oito anos, e trouxe problemas constantes:
- Caminhões bloqueando ruas;
- Entulho acumulado;
- Ruídos de obra quase diários;
- Garagens dos vizinhos bloqueadas;
- Segurança privada que, em alguns casos, chegou a abordar pedestres.
Em dias de festa, a situação piora: a rua é tomada por caminhões, valets e música alta. Como “compensação”, os vizinhos recebem presentes variados, de chocolates e donuts a garrafas de vinho e até fones de ouvido com cancelamento de ruído.
A relação fria com a vizinhança:
Apesar de toda a presença física, Zuckerberg quase não aparece.
- Não participa das tradicionais festas de quarteirão;
- Em vez disso, envia carrinhos de sorvete ou pequenos mimos;
- Tentativas de aproximação por parte dos vizinhos acabaram ignoradas.
Além disso, uma das casas chegou a ser usada como escola particular para 14 crianças, sem autorização legal, gerando mais descontentamento na comunidade.
Histórico de resistência:
Em 2016, Zuckerberg tentou autorização para demolir quatro casas e construir novas residências menores, cada uma com grandes porões. O conselho local barrou o projeto.
A solução encontrada foi fragmentar as obras, tocando uma ou duas casas por vez, sem precisar de nova avaliação coletiva.
No total, em 14 anos, o bilionário acumulou 56 licenças de obra apenas em Crescent Park.
Quando a privacidade vira ocupação:
Para alguns moradores, a sensação é clara:
“Nenhum bairro quer ser ocupado… mas foi exatamente isso que aconteceu.” Michael Kieschnick, vizinho.
A presença de Zuckerberg trouxe mais seguranças, câmeras e um ambiente de constante vigilância, mas também uma distância emocional quase intransponível.
Não é só Zuckerberg: tendência entre bilionários:
O caso de Crescent Park não é isolado. Bilionários do Vale do Silício vêm repetindo o movimento de transformar bairros em fortalezas particulares:
- Jeff Bezos consolidou mansões em Beverly Hills e no Havaí;
- Larry Ellison comprou praticamente toda a ilha de Lanai, no Havaí;
- Elon Musk também já centralizou aquisições em áreas estratégicas.
No caso de Zuckerberg, o portfólio inclui ainda propriedades no Havaí e em Lake Tahoe.
Conclusão: privacidade x comunidade:
O “império silencioso” de Zuckerberg em Crescent Park levanta uma questão importante: até que ponto a busca pela privacidade e segurança pessoal pode coexistir com o espírito comunitário de um bairro?
Se por um lado ele conseguiu criar um refúgio particular, por outro, o movimento acabou descaracterizando a vida em comunidade que por décadas marcou a região.




